Deixar um bem material desprotegido, como um imóvel ou um carro, à mercê de estranhos é impensável para a maioria das pessoas. No entanto, nem sempre a mesma cautela se estende à segurança digital. Muitos indivíduos e até mesmo empresas ainda adotam formas ineficientes ou obsoletas de proteção. Nesse contexto, o modelo Zero Trust se torna fundamental.
Esse modelo parte do princípio de que ninguém é automaticamente confiável e que toda tentativa de acesso requer verificação, assim como trancar portas e instalar alarmes reforçam a segurança física.
Pilares do Zero Trust: desconfiança e verificação contínua
Com o avanço da tecnologia, criminosos virtuais têm à disposição ferramentas cada vez mais sofisticadas para obter acesso a informações sensíveis, como dados empresariais, frequentemente compostos por informações confidenciais, propriedade intelectual e registros de clientes e fornecedores.
Ataques como ransomware, que sequestram dados e exigem pagamento para sua liberação, tornaram-se cada vez mais comuns, representando um grande risco financeiro e reputacional para as empresas.
Em 2024, o Brasil ficou entre os cinco países mais atingidos por ataques de ransomware, representando 1,8% dos mais de 3,5 milhões de casos registrados nos primeiros quatro meses do ano, segundo levantamento da Trend Micro. O relatório Cost of a Data Breach, realizado pela IBM, apontou que o custo médio de uma violação de dados no Brasil em 2024 foi de R$ 6,75 milhões.
Questionar sempre
A principal premissa do modelo Zero Trust é: nunca confiar automaticamente em ninguém. Dessa forma, as chances de invasores explorarem brechas e vulnerabilidades são significativamente reduzidas. O modelo se baseia em pilares fundamentais, como:
- Gerenciamento de Identidade e Acesso (IAM): conjunto de políticas e tecnologias que garantem que apenas usuários autenticados e autorizados acessem sistemas críticos;
- Autenticação Multifatorial (MFA): mecanismo que exige mais de um fator de verificação para conceder acesso. Assim, mesmo que uma credencial de login, como uma senha, seja comprometida em um vazamento ou ataque de phishing, o acesso permanece bloqueado sem a verificação adicional.
Dividir para não ser conquistado: evitando movimentos laterais
A microssegmentação é outro elemento essencial do Zero Trust, funcionando como barreiras internas que impedem invasores de circular livremente dentro da rede corporativa. Em um modelo de segurança tradicional, se um criminoso virtual consegue explorar uma vulnerabilidade, ele pode acessar todo o sistema. Por sua vez, a microssegmentação divide e isola zonas da rede, cada uma exigindo credenciais próprias.
Na prática, isso significa que, mesmo que um invasor consiga encontrar um ponto vulnerável no sistema, ele enfrentará bloqueios que impedem seu avanço. É como se ele conseguisse entrar em uma casa, mas encontrasse todas as portas internas trancadas, limitando seu acesso aos demais cômodos.
Além de conter possíveis ameaças, essa abordagem também facilita o monitoramento, permitindo que a equipe de segurança identifique e responda rapidamente a atividades suspeitas.
Adaptação à realidade híbrida: o desafio da implementação
Com a popularização do trabalho remoto e dos ambientes de TI distribuídos, implementar o Zero Trust se torna ainda mais urgente para garantir a segurança de dados. Em modelos tradicionais, a proteção dos sistemas opera em uma rede corporativa fechada, na qual os acessos são observados de perto. Por sua vez, a necessidade de acessos externos por funcionários e parceiros aumenta consideravelmente o risco, uma vez que não há supervisão direta.
Por isso, adotar uma arquitetura Zero Trust ajuda a evitar danos potencialmente irreparáveis às empresas, tanto financeiros quanto à sua reputação. Paralelamente, ferramentas de segurança baseadas na nuvem reforçam essa proteção, permitindo que a autenticação e o monitoramento ocorram sem a necessidade de infraestrutura física complexa.
A evolução do Zero Trust frente à sofisticação tecnológica
Tecnologias como inteligência artificial (IA) e machine learning desempenham um papel crucial nas arquiteturas Zero Trust. Elas reconhecem os hábitos usuais de um funcionário e, ao identificar atividades incomuns, como logins em horários ou locais atípicos, bloqueiam automaticamente a tentativa de acesso ou exigem autenticação adicional. Dessa forma, garantem uma proteção mais robusta.
A pesquisa da IBM ainda destacou o papel da IA no combate aos crimes digitais. Em 2024, 31% das empresas brasileiras afirmaram estar implementando IA e automação para prevenir ataques. Em 2023, as organizações que utilizaram IA na cibersegurança registraram um prejuízo menor (R$ 2,17 milhões) em comparação às que não adotaram a tecnologia.
No entanto, um ponto crítico surge no horizonte: a computação quântica. Quando totalmente desenvolvida e popularizada, essa tecnologia será capaz de quebrar algoritmos criptográficos tradicionais, tornando muitos dos métodos de segurança atuais obsoletos. Já há pesquisas em andamento sobre soluções de criptografia pós-quântica para garantir a proteção das redes no futuro.
A linha de defesa necessária contra ameaças cibernéticas
Diante das crescentes ameaças digitais, o modelo Zero Trust é uma maneira eficaz de proteger dados sensíveis e recursos críticos. Seu grande diferencial em relação aos sistemas atuais é a verificação constante e multifatorial, somadas ao monitoramento ativo.
Além disso, ao garantir que cada tentativa de acesso passe por verificação e rastreio, o Zero Trust ajuda as organizações a atenderem aos requisitos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras legislações emergentes, fortalecendo a transparência e a governança de dados.
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