A inteligência artificial (IA) tem transformado o ambiente corporativo, promovendo avanços em eficiência, automação de processos e análise de dados, dentre outros. E a tendência é que, nos próximos anos, a tecnologia se integre ainda mais ao cotidiano das pessoas. Contudo, sua adoção trouxe à tona questões como a governança da IA, que envolve a criação de práticas e políticas para garantir que seu uso seja orientado por valores como transparência, ética e segurança no tratamento de dados.
Isso porque, apesar de sua capilarização, os sistemas de IA operam de maneira complexa, o que dificulta a compreensão de seu funcionamento, até mesmo por profissionais que lidam com a tecnologia cotidianamente. Essa lacuna técnica representa um desafio para as empresas, gestores e profissionais, que precisam justificar e entender as decisões tomadas pela tecnologia, corrigir possíveis vieses e atender às regulamentações emergentes.
Popularização da IA e a necessidade de governança corporativa
Com a integração da IA em setores tão diversos como saúde, finanças, varejo e educação, as organizações enfrentam um dilema crescente: como garantir que os sistemas utilizados estejam alinhados a valores éticos e regulatórios, mantendo a qualidade dos resultados? Essa preocupação afeta empresas de todos os tamanhos que buscam competitividade no mercado digital.
De fato, uma governança eficiente e que seja compreensível tem sido um tema em pauta entre gestores. Uma pesquisa da Deloitte de 2023 revelou que 78% dos líderes empresariais acreditam que a regulamentação sobre IA deve ser ampliada. No entanto, 72% dos entrevistados apontam que a colaboração internacional ainda é insuficiente para assegurar o desenvolvimento responsável dessa tecnologia.
Uso ético da IA no dia a dia corporativo
A implementação de práticas éticas de IA exige um enfoque técnico adaptado às peculiaridades da tecnologia, combinado com uma visão estratégica de longo prazo.
Revisões periódicas de algoritmos
Análises técnicas regulares são essenciais para identificar e corrigir erros, além de prevenir desvios em relação aos padrões éticos estabelecidos pela legislação em vigor.
Explicabilidade
Como mencionado no início do texto, muitos profissionais que utilizam a tecnologia diariamente não têm pleno conhecimento de como a IA opera.
Dessa maneira, o desenvolvimento de modelos que permitam compreender como e por que uma decisão foi tomada é fundamental. Por exemplo, técnicas de visualização e métricas interpretáveis ajudam a esclarecer o processo decisório.
Segurança de dados
A aplicação de métodos avançados de criptografia para proteger informações sensíveis é indispensável. Essas práticas previnem vazamentos e o uso indevido de dados.
Estabelecimento de comitês de ética em IA
A criação de grupos multidisciplinares para supervisionar o impacto social, ético e regulatório dos sistemas adotados deve ser prioridade nos âmbitos local, regional e mundial. Empresas que investem em práticas éticas reduzem os riscos legais e aumentam a confiança de clientes e parceiros.
O papel da RegTech na governança de IA
A RegTech, ou tecnologia regulatória, refere-se ao uso de soluções tecnológicas para automatizar e melhorar processos de conformidade regulatória. No contexto da governança em IA, essas tecnologias desempenham um papel crucial ao auxiliar as empresas a cumprirem normas.
Uma pesquisa do Gartner, realizada em 2023, revelou que 60% dos líderes de compliance planejam investir em soluções de RegTech baseadas em IA até 2025. Essas tecnologias têm a capacidade de identificar não conformidades em tempo real, emitindo alertas automáticos para possíveis violações. Além disso, permitem uma compreensão aprofundada do funcionamento dos algoritmos, facilitando ajustes e adaptações para garantir a conformidade com legislações.
No entanto, os benefícios do uso de RegTech na governança de IA não se restringem ao aumento de eficiência, evitando desgastes desnecessários com problemas regulatórios ou falhas técnicas e humanas. Eles também reduzem o tempo hábil de resposta, beneficiando negócios e clientes.
Diretrizes globais para a governança de IA
A governança em IA é tema de destaque em diversas iniciativas globais que buscam criar padrões para o uso ético e responsável dessa tecnologia. Essas diretrizes são um ponto de partida essencial para empresas que desejam estabelecer estruturas internas de governança alinhadas aos padrões internacionais.
Entre as mais relevantes estão:
AI Act (União Europeia): estabelece regras aos desenvolvedores e implementadores de IA requisitos e obrigações claras em relação aos seus usos específicos. Ao mesmo tempo, ela também busca reduzir encargos administrativos e financeiros para as empresas, em especial para pequenas e médias empresas (PMEs).
Princípios de IA da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE; global): incentiva a criação de sistemas que respeitem direitos humanos, promovam a igualdade e sejam aplicáveis em diferentes contextos. Esses princípios também destacam a necessidade de monitoramento contínuo e colaboração internacional.
PL 2.338/2023 (Brasil): Propõe regulamentar o uso de IA no país, com foco na prevenção de danos éticos e sociais, e na necessidade de responsabilidade transparente para os sistemas automatizados adotados.
Ferramentas de governança de IA: aplicando na prática
Apesar de seus grandes benefícios, a rápida evolução da IA dificulta o acompanhamento das regulamentações e a adoção de práticas condizentes. A falta de controles automatizados e atualizados agrava os riscos, aumentando as chances de falhas operacionais, desperdício de tempo e perdas econômicas.
Essas dificuldades podem ser amplificadas por erros humanos ou pela falta de entendimento sobre o funcionamento da IA e sua adequação às práticas regulatórias. A ausência de governança, frequentemente, resulta em decisões equivocadas, podendo gerar multas significativas pelo não cumprimento de normas legais. Portanto, a utilização das ferramentas avançadas de governança disponíveis no mercado é altamente aconselhável para que empresas operem com eficiência em um ambiente de regulamentações nascentes, e em evolução, e mercados diversificados.
Plataformas de monitoramento contínuo identificam anomalias em tempo real, enquanto auditorias automatizadas asseguram conformidade com normas locais e globais, reduzindo riscos éticos e de privacidade. Testes de viés garantem maior equidade nos resultados dos modelos, e a documentação detalhada facilita futuras auditorias. Já os módulos de explicabilidade ajudam equipes técnicas e gestores a compreenderem decisões automatizadas, promovendo confiança nos processos.