O Brasil ainda depende fortemente de servidores internacionais para armazenar os dados que consome. De acordo com dados do Ministério da Fazenda, 60% das informações digitais usadas no país estão hospedadas fora do território nacional. Esse cenário impõe desafios relevantes para os provedores de hosting e cloud computing, como aumento de custos, perda de autonomia e maior exposição jurídica. Em resposta, o governo federal estrutura o Redata, voltado ao fortalecimento do ecossistema de datacenters nacionais.
O programa integra as 25 metas da equipe econômica para conclusão até o final de 2025. O plano prevê isenções de IPI, PIS/Cofins e imposto de importação sobre equipamentos por um período de cinco anos.
Para tanto, a proposta prevê isenção de IPI, PIS/Cofins e imposto de importação sobre equipamentos essenciais, válida por cinco anos. Conforme projeções da Fazenda, o marco regulatório pode atrair até R$ 2 trilhões em investimentos ao longo da próxima década.
Alta eficiência será regra: só participa quem usar resfriamento fechado
Um dos critérios técnicos centrais do programa será a exigência de sistemas de resfriamento fechado. Essa medida tem como foco elevar os padrões de eficiência energética e sustentabilidade nos datacenters brasileiros.
Segundo Igor Marchesini, assessor especial do ministro da Fazenda, “um datacenter de 200 megawatts com sistema de resfriamento fechado poderia consumir até 0,25 litro de água por segundo”. A diferença é significativa. Algumas soluções já disponíveis no mercado são “até 650 vezes mais eficientes que a evaporação tradicional”, completa.
Durante o evento “ABDIB Fórum 2025 – Infraestrutura: Caminho para o Desenvolvimento Sustentável”, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou: “um dos principais entraves para a IA é o consumo de energia, e o Brasil se destaca nesse aspecto por contar com abundância energética”. Esse fator coloca o país em vantagem competitiva, especialmente diante da demanda crescente por serviços intensivos em dados.
Menos impostos e mais crédito: Redata antecipa benefícios fiscais
O programa também propõe antecipar incentivos da futura reforma tributária. A ideia é simplificar a aquisição de itens indispensáveis como servidores, chillers, sistemas de climatização e infraestrutura elétrica. Tudo isso com menos burocracia e custos reduzidos.
Além das isenções, o programa prevê linhas de crédito específicas, com condições mais favoráveis para o setor. Assim, empresas nacionais terão mais facilidade para expandir suas operações ou atualizar sua estrutura tecnológica.
Dessa maneira, a combinação entre incentivos fiscais e acesso a crédito tem potencial para ampliar a competitividade dos provedores brasileiros e incentivar novos investimentos em infraestrutura crítica.
Vantagem competitiva para quem atua com dados no Brasil
Empresas que operam com cloud e dados sensíveis poderão se beneficiar diretamente ao aderir aos critérios do Redata. Entre os principais ganhos estão menor latência, maior controle sobre as operações e melhor adequação às exigências de soberania digital.
Esses diferenciais são especialmente importantes para atender setores com forte regulação, como finanças, saúde e administração pública. Ao priorizar a hospedagem local, as empresas também se alinham às normas de compliance e reduzem riscos relacionados a jurisdições estrangeiras.
Com isso, o programa se posiciona como um recurso estratégico para colocar os provedores nacionais em pé de igualdade com grandes players internacionais.
Alavancar o mercado exige mais que incentivo: infraestrutura é desafio
Embora o Redata traga propostas robustas, seu sucesso depende de condições estruturais básicas. A começar pela necessidade de regulamentações claras, processos de adesão eficientes e segurança jurídica para os participantes.
Além disso, há gargalos significativos em regiões fora dos grandes centros urbanos. Em muitas localidades, a ausência de energia elétrica confiável e conectividade de alta capacidade dificulta a instalação de novos datacenters.
Sem avanços paralelos em infraestrutura, o potencial do programa pode ficar restrito às áreas mais desenvolvidas. Por isso, o Redata precisa ser acompanhado por uma política integrada que envolva os setores de energia, telecomunicações e planejamento urbano.
Hora de agir: como provedores podem se preparar agora
Mesmo antes de entrar em vigor, o Redata já provoca movimentações no setor. Por isso, empresas que desejam se beneficiar da iniciativa devem começar agora a se organizar. Algumas ações imediatas podem fazer toda a diferença quando o programa for lançado:
- Revisar projetos de infraestrutura com foco em eficiência hídrica e energética;
- Avaliar fornecedores de sistemas de resfriamento fechado com comprovação de desempenho;
- Mapear linhas de crédito público e privado para aquisição de ativos;
- Alinhar políticas de compliance e soberania de dados com os critérios do programa;
- Identificar regiões com infraestrutura de energia e conectividade compatíveis com expansão.
O Redata ainda está em fase de estruturação, mas seu impacto no setor já é tema de discussão entre empresas, investidores e especialistas em tecnologia. Isso porque a combinação entre incentivos fiscais, padrões de sustentabilidade e foco em soberania de dados pode redefinir o papel do Brasil na economia digital global.
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