O que pode indicar a redução de provedores de internet no Brasil?


Nos últimos quatro anos, o cenário dos serviços relacionados à internet apresentou diversas mudanças, desde crescimento de demanda à redução no número de provedores. Na pandemia, por exemplo, houve um aumento entre 40% e 50% no uso da internet, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Consequência disso, aumentam as grandes fusões e aquisições. Enquanto isso, no período entre 2020 e 2022, os fundos de investimento demonstraram maior interesse nesse mercado.

Em contrapartida, dados da TIC Provedores 2022, revelam que o Brasil perdeu 1,2 mil provedores de Internet em dois anos. Contudo, o mesmo levantamento aponta uma consolidação do setor. Mas o que de fato todas essas transformações podem indicar? Entenda agora, neste artigo.

Redução de provedores: entenda cenário atual no país

Antes de analisar o que pode significar a redução de provedores de internet no Brasil, é necessário entender o contexto do setor nesses últimos anos. Dessa forma, destacamos a seguir dois fatos que representaram mudanças consideráveis no setor.

Alta demanda durante a quarentena exigiu mudanças

Na pandemia, a demanda pelos serviços de internet nunca foi tão grande. Segundo a Anatel, o aumento do consumo chegou a ser de até 50%, porém também cresceu a quantidade de reclamações, devido a má qualidade dos serviços.

Deste modo, problemas como instabilidade e velocidade baixa foram alguns dos principais motivos de insatisfação registrados. Para se ter ideia, dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC) chegaram a relacionar a influência da pandemia de coronavírus na qualidade da internet no Brasil.

Portanto, essa alta demanda por internet exigiu mudanças na qualidade dos serviços por parte das provedoras. Com isso, juntamente com as reclamações, os provedores enfrentaram desafios para apresentar melhora na banda larga.

A própria Anatel relatou como provedores lidaram com as mudanças, nas seguintes palavras: “As grandes prestadoras de telecomunicações providenciaram expansões de capacidade em suas redes para absorver a alta de demanda de tráfego. Os pequenos provedores e suas associações se empenharam em otimizar suas redes para esta situação”, disse a Agência em nota ao G1.

Fusões e aquisições entre empresas

Consequência da alta dependência da internet na pandemia, os fundos de investimento demonstraram grande interesse no mercado no período de 2020 a 2022. A partir disso, houve um crescimento considerável de fusões e aquisições entre as empresas do segmento.

Em 2023, essas fusões continuaram a acontecer. Um exemplo disso, foi a junção dos provedores regionais de internet Vero e Americanet. A transação deu origem a uma companhia, cuja receita é de R$ 1,7 bilhão e mais de 1,4 milhão de assinantes em 450 cidades.

Na sequência, o BTG Pactual (banco de investimentos) apresentou uma análise com possibilidades de transações futuras entre as grandes provedoras. Dentre essas empresas estariam, a Brasil Tecpar, a Desktop, Unifique, Cabonnet, entre outras.

Pesquisa aponta que Brasil a redução de 1,2 mil provedores de Internet em dois anos

A 5ª edição da TIC Provedores revelou dados importantes como a redução no número de provedores no país. A comparação entre 2020 e 2022 mostra que o Brasil perdeu 1,2 mil provedores de acesso à Internet. Já que contava com 12.826 empresas em 2020, e registrou um total de 11.630 em 2022, totalizando uma baixa de 9,32%.

O que especialistas consideram sobre a redução no número de provedores?

A TIC também revelou que a proporção de médias empresas do segmento (de 50 a 249 pessoas ocupadas) passou de 13% para 17%. Além disso, também acrescentou que a participação das microempresas (com até 9 pessoas ocupadas) caiu 10 pontos percentuais, indo de 56% para 46%.

Em outras palavras, a análise apontou uma redução no número provedores, principalmente microempresas e, ao mesmo tempo, notou o aumento de médias empresas. Esse fato mostra que talvez essa redução possa ser positiva tendo em vista o crescimento do mercado, deixando pra trás as microempresas em prol da consolidação.

Esse é o ponto de vista do coordenador da TIC Provedores, Leonardo Melo, que afirma o seguinte: “Há tanto um aspecto de fusão e aquisição como também de redução de empresas, sobretudo porque temos uma diminuição na proporção de microempresas […] Pode ser que microempresas tenham ficado pelo caminho. Ao mesmo tempo, surgiu um número de empresas maiores, porque houve um aumento da proporção de médias empresas”, disse ao Valor Econômico.

Por outro lado, o CEO da Brisanet (empresa líder de banda larga fixa na região Nordeste) José Roberto Nogueira, tem outro ponto de vista. O CEO acredita que o problema para a redução das provedoras seja a falta de investimento de muitas companhias, que já enfrentam forte concorrência nos mercados mais periféricos, não atendidos pelas grandes operadoras.

Qual a importância dos pequenos ISPs para o país

Segundo dados do governo, existem mais de 20 mil provedores de internet no país (são majoritariamente de pequeno e médio portes), com mais de 23 milhões de pontos de acesso.

Além disso, a Agência Nacional de Telecomunicações informa que há pelo menos um provedor em operação em todas as cidades do país, que são responsáveis por aproximadamente 50% do mercado nacional de banda larga fixa.

Sendo assim, a forte presença dos pequenos provedores de internet em diversas regiões atribui a eles um papel fundamental­­—levar o acesso à internet a população. E foi sobre esse aspecto que o Ministro das Comunicações, Juscelino Filho, falou no 14º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (ABRINT) no ano passado.

“Dados de pesquisa mostram que quase 20% da população ainda não acessa a internet” […] “Os pequenos provedores exercem um papel importante no nosso país e não tenho dúvida alguma que eles serão grandes parceiros para que a gente leve essa conectividade para aquelas regiões rurais remotas, distantes, e supere esses desafios de levar essa inclusão digital para esses brasileiros que ainda não estão conectados”, afirmou o ministro.

A boa notícia é que juntamente com a consolidação do mercado de provedores, estimativas apontam para o crescimento no setor das telecomunicações. As perspectivas contam com as tendências tecnológicas e a demanda por conectividade para tais avanços. Segundo as previsões da Consultoria IDC Brasil, haverá um crescimento em receita de internet na ordem de 5%, considerando B2B e B2C até 2027.